A maior parte dessa aventura acontece em Heuteria. Um lugar que se pode
ir e voltar quando quiser, se souber os caminhos certos. Uma região habitada
pelos mais deferentes povos.
Este livro bem poderia ser mais um bom livro de aventura em que gnomos,
anões, elfos, duendes e fadas emprestam suas impressionantes qualidades e sabedoria
para tornar épico os desafios enfrentados e superados. Contudo, esse livro abre
espaço para a participação de outros ainda esquecidos, mal compreendidos e
afastados da grande festa que hoje todos estes seres conduzem por entre as
dezenas de histórias e contos que circulam pelo mundo todo. Estes seres
vêm de uma cultura que a mais de 500 anos vêm sendo combatida, chegando quase a
sua total extinção, e que nasceram em sua maior parte das histórias Iorubás.
São essencialmente brasileiros e fazem parte de um folclore ainda
negado. Mas eles pedem o direito de ser conhecidos, de terem suas qualidades
exaltadas e seus feitos louvados. São os caboclos, os erês e exus.
Os erês são seres cuja imagem é a de eternas crianças. São ingênuos,
dóceis e gostam de justiça.
Os caboclos são seres que vivem nas matas. São puros, têm o coração
bom, coragem e vontade de ajudar. Gostam muito de dar conselhos.
Os exus são ainda mais mal compreendidos que todos os outros. Pela
dezena de castas e subdivisões são confundidos com seres ruins ou mal
intencionados. Mas como a todo povo, também os exus possuem classes dos mais
elevados padrões morais. Prezam pela disciplina e são impetuosos. Não são muito
bonitos, mesmos os mais nobres.
Em diferentes religiões afro-brasileiras eles são entendidos de
diferentes formas. Mas uma coisa é certa. Assim como os gnomos, os duendes,
anões, mesmo fadas e elfos foram demonizados um dia, hoje os seres da cultura
Iorubá sofrem com a discriminação.
É com o intuito de promover a globalização real das histórias e contos
míticos espalhados pelo mundo que esse livro ressalta a existência destes
pequenos e poderosos seres.
Muito ainda há que ser debatido, que ser estudado e compreendido. Mas
não podemos permitir crer que tudo que é essencialmente brasileiro seja visto
como algo ruim.
A única coisa ruim é o preconceito. É isso que temos que combater, o
tempo todo, dentro e fora de nós.